segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Movimento Sociocultural Supernova realizou no dia 30 de março a Noite Supernova que marcou o encerramento da I Virada Feminista do DF – contra os fundamentalismos.

O debate iniciou com a fala de Jéssica Martins, que conduziu a primeira parte do evento onde foi colocado em xeque o machismo, implícito nas ações do nosso cotidiano e a questão inicial levantada foi: Como você se sente quando... ? 
O evento contou com uma belíssima exposição de fotos disponibilizadas pelo Ponto de Memória da Estrutural, que é um museu popular, auto gestionário, gerido por representantes da comunidade, com foco na reflexão sobre identidade, pertencimento, movimentos sociais e culturais e com base no protagonismo daqueles que habitam, participam e fazem a história da comunidade. 

Uma exposição, que vem deste o ano passado com tema Mulher: a mulher que luta pela dignidade. Ao observar as fotos nos perguntamos qual o vínculo das pessoas com a cidade?
A exposição é de fotos das mulheres da Estrutural e outras como Olga Benário, presidente Dilma, Estamira etc. E outra parte do acervo são fotos do dia a dia e uns espelhos, para que as mulheres se reconheçam como partícipes dessa homenagem.

As pessoas foram chegando ao decorrer do debate, mas iniciamos com a presença de Jéssica Supernova, Zeca Supernova, Eu Supernova, Estela Supernova, Priscila Supernova, Fábio INESP projeto Onda, Tatiana Projeto Onda Estrutural, Eadson, Anne, Francisco Neri, Vania Professora Projeto Social Estrutural, Aparecida Supernova, Polyana Costa Jornal Daqui, Silvia Serviço Social, Cleia Pedagoga, Márcia Coordenadora, Paulo Supernova, Chibi Supernova Artista Plástica, Chico Rosa Baterista Supernova, Roberto Movimento Hip Hop, Nanah Farias Supernova, Leide mãe da Jéssica, Iara Supernova estudante de Direito, Nanda Supernova Atriz UnB, Marissa Pedagoga Supernova, Sara supernova, Benaia Lopes, Erika Kokay, Bancaria, Deputada Federal, que fez uma belíssima fala sobre a questão em pauta: A mulher. Erika disse que a cultura é uma coisa que faz com que a gente se reconheça como seres humanos e históricos. A gente vai se fazendo como fruto das nossas ações e quando pensamos em grupo pensamos em semente. Sobre o Movimento Supernova disse que este procura entender o mundo e se entender no mundo, (re)significando-se sempre e que isso vale também pras mulheres. É um pouco esse misto de memória e se situar nessa história.

"Não somos donos da vida. Mas sim da trama da vida. Podemos pegar a vida pelas mãos e transforma-la. Nós não conseguimos nos identificar como seres humanos se não nos vermos como sujeito."

Erika falou da lógica patriarcal e fez uma incursão na história do Brasil da escravidão à ditadura. É necessário que mergulhemos a fundo nessa história para nos entender, pois o movimento que a história faz naturaliza o que não é para ser naturalizado e não conseguimos depois entender que na violação de certos direitos, estão ainda presente os resquícios do pensamento colonialista, da ditadura.

A Deputada falou também da construção de uma sociedade mais igualitária, onde todas as pessoas independentes de como são e amam, tenham os mesmo direitos, ou vamos continuar numa sociedade onde as pessoas tem cada vez mais medo da própria vida. Vivemos numa sociedade que tem medo, resultado dessa história desumanizante. E quando se tem medo não se consegue sentir a vida, sentir-se a si mesmo, reconhecer os seus desejos.
Como é possível pensar no ser humano sem desejo? Se a mulher não é dona do seu desejo, da sua historia, como vai se encarar como ser humano?
Essa discussão tem uma lógica mais ampla. Estamos falando de um extermínio de uma geração. Como romper com isso sem colocar na agenda do legislativo, dos governos, do judiciário, as defesas dos direitos do ser humano? Esta defesa tem que estar no centro de todas as discussões.
A violência doméstica também entrou em questão. Essa violência provoca um processo de desterritorialização. A mulher, no caso, fica sem chão e começa a sofrer uma série de assédios, então vai cedendo para apostar na relação. Sentindo-se culpada por ter medo e fazer a relação ir mal. Quando a casa fica suja ela se sente culpada, quando ela tem que sair ela se sente culpada, quando o marido a trai, ela se sente culpada. É culpa de mais! A culpa é um instrumento de dominação. E quando ela olha dentro dela, já não é mais ninguém, é simplesmente objeto de desejo do homem. É o mesmo processo da tortura. E esse processo de desumanização vai se naturalizando. Mas não é natural. Tem que ser desconstruído. Por isso a necessidade em se investir na construção de políticas públicas que possibilitem as pessoas serem elas mesmas, compartilhar suas angustias e conquistas. O GDF, os militantes locais, temos que puxar a agenda dos Direitos Humanos para a centralidade dessas políticas. Pensar a saúde, a educação, a cultura com o recorte das mulheres. E tem que ser feito uma campanha permanente. Senão não tem saída.
As pesquisas indicam que 70% das mulheres vitimas de violência sofrem os abusos na presença dos filhos. Estes tendem a naturalizar a violência e resolver os conflitos através da violência pois tornou-se natural agir assim. Isso faz com que os meninos aprendam que numa situação de conflito ele use da sua força e oprima o mais fraco.
A discussão da violência contra a mulher se expressa de tantas formas, não é só aquela que deixa o hematoma, mas a violência patrimonial, moral, física e que na maioria das vezes é uma violência silenciosa, disfarçada numa lógica machista. Se investigar-se a faca que mata uma mulher, é fato que foi antes afiada pela lógica machista. Tem-se que identificar os opressores.
A Deputada finalizou citando Simone de Bevouir: “O que nós mulheres queremos é o poder de sermos nós mesmas.”
A importância do que a Erika falou é a de criar espaços de fala, e certamente o Movimento Sociocultural Supernova proporciona esses espaços.

Nanah Farias fez um depoimento emocionante sobre sua história de vida, marcada por muita violência. Ela é feminista e bate o pé! E diz mais: “Ser feminista não significa que vamos odiar os homens.” E cita também que há um grande problema que é: "a mulher, nem ninguém, sozinha não aguenta fazer todos os afazeres de casa não. Todos tem que participar."
Marissa também falou sobre a fala da Erika, colocando essa problemática da situação da mulher na perspectiva da escola.

A fala de Edvair Ribeiro também foi um ponto alto do debate e aqui vocês podem conferir seu depoimento. 


Chiquinho falou da naturalização dos preconceitos.
Anne disse que achou interessante a fala da Erika e o seu ponto de vista sobre a “naturalização”. Ela vê o machismo impregnado na nossa sociedade, quando mulheres que são tratadas como “carne”, a serem sujeitados a sofrerem assédio, não cobrir matérias de manifestação por serem frágeis, condições indignas de emprego: não poder engravidar ser a “escraviária”, Ela da o exemplo do cara que dá cantadas horríveis, falando da bunda, que é gostosa, que quer comer. Cantada é um assédio sexual descarado, público e que não deve continuar aceito nem ser visto como natural. Disse mais: “o machismo também existe nas mulheres.” Anne já sofreu agressões. Ela diz que os seus agressores não se veem como agressores. São psicopatas.
Chibi contou que também sofreu violência domestica. A mulher não apanha porque quer. Na cabeça dela ela tinha total dependência. Ela podia ir a uma delegacia, ao conselho, mas ela não sabia. Ela havia construído uma série de fatores que impediam-na de fazer algo. Essas opressões causaram muitos traumas.
A participação foi intensa. Os presentes sentiram-se à vontade para contar suas experiências, história de vida, pontos de vista etc. Parabéns a tod@s @s participantes desse momento belíssimo de acolhimento, integração e aprendizado.

O sarau começou com a apresentação de Estela Sena e Bia Estiano, voz e violão. Juh Rodrigues, Priscila Sena, Kezia Beatriz recitaram poesia. Jessica Alves apresentou-se com a sua banda. Nanda Pimenta fez uma performance poética inovadora e tocante. Jozzy Jordão também nos emocionou com a sua dança. O Trio Trinca flor, sacou a viola, soou a alfaia e o pandeiro e nos colocou para dançar um forró do bom.

Agradecimento especial a todas as mulheres que mostraram a sua força e garra nessa luta do fazer cultural  e fizeram dessa Noite Supernova mais bela e feminina.



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