Protagonismo: o antídoto para a violência contra a mulher
A violência contra a mulher tem ocupado cada vez mais espaço nos
veículos jornalísticos e isto mostra a necessidade de ações urgentes para
conscientizar e ajudar os casais, baseadas em análises mais profundas dessa
questão.
A desigualdade de poder, vista por toda parte, influencia
fortemente os comportamentos individuais na nossa sociedade e se manifesta
através de inúmeros jogos de poder nas relações.
Destes jogos, o da
vítima/vilão é o mais básico e facilmente incorporado pelas pessoas. As
pessoas escolhem estes papéis, mesmo que inconscientemente, de acordo com as
suas tendências e condicionamentos culturais.
Assim, na relação afetiva,
genericamente, a mulher é educada para o papel de mais passiva e tende a
funcionar como vítima e o homem, treinado mais para a ação e para ser
guerreiro, tem maior atração para o vilão. Na recente aceleração da
evolução feminina, a mulher tem descoberto o seu poder de ação, especialmente
para a sua sobrevivência e muitas vezes, para a auto-realização material e
profissional. Contudo, no relacionamento-a-dois, a situação é bem diferente.
A maioria evoluiu pouco no papel de parceira e, por não conseguir resolver os
conflitos de poder que surgem, se submete, convivendo com a situação de
desigualdade de poder e aceitando a hostilidade do seu companheiro. Como
vítima, a mulher contribui para perpetuar o processo da hostilidade que, sem
conseqüências para o vilão, cresce a cada dia. E o homem, qual o
seu contexto? Ao contrário da mulher, a percepção do homem, nas últimas
décadas é de perda de poder e prestígio social. É verdade que, com a evolução
dela, ele ganhou outras vantagens. Entretanto, nem sempre ele consegue
enxergá-las ou valorizá-las, e por isto não chegam a compensá-lo. A perda de
status é sentida como mais importante e por ser atribuída a causas externas,
ainda fere profundamente o orgulho de muitos deles. Soma-se a isto o fato de
que também houve, para ele, perda de espaço profissional, por vários fatores,
como pelo aumento da competitividade, inclusive com as mulheres e por uma
conjuntura econômica mais desafiadora. Por isto, muitos deles freqüentemente
vêem seus sonhos de realização material e profissional frustrados. Neste
contexto, o relacionamento afetivo se mostra como a brecha, isto é, o espaço
onde o homem tem a possibilidade de compensar esta perda de poder,
sentindo-se novamente forte e importante. Inegavelmente, vivenciar o poder é
prazeroso. Neste processo, ele não costuma ter consciência dos seus motivos
reais, assim como a mulher não se dá conta do quanto contribui com a sua
passividade, mas o fato é que estas condições se tornam absolutamente
favoráveis ao crescimento da violência contra a mulher. A violência pode ser
entendida como uma doença do relacionamento e no casal, se manifesta de forma
insidiosa, ou seja, o crescimento da hostilidade é, geralmente, crônico e
cresce aos poucos. Com o passar do tempo, o homem cria dependência deste
prazer fácil e inconsequente que obtém, nos momentos de ira. Enquanto isto, a
mulher perde, cada vez mais, a auto-estima e autoconfiança, ou seja, sua
capacidade de agir positivamente para resolver o problema decresce. Isto
explica o agravamento da doença e suas conseqüências
devastadoras. Então, o que pretendemos é a cura desta doença. Mas,
afinal, embora a resposta possa parecer óbvia, precisamos analisar... quem é
o agente causador? Ou melhor, quem é o inimigo que se deseja derrotar? Muitos
responderiam que é o parceiro violento. É dele que esta mulher precisa se
livrar. Estes se enganam e as estatísticas mostram que se ela simplesmente se
separar deste homem, tenderá a encontrar outro vilão no seu caminho, o que se
pode entender facilmente, pois está condicionada a funcionar como vítima. Então,
seu inimigo não é o parceiro. Outros diriam que o inimigo da violência é o medo.
É verdade que esta mulher vive intensamente o medo da perda, mas, como
qualquer outro medo humano, ele é natural e existe como um desafio a ser
vencido. O inimigo real desta mulher constitui-se de várias crenças que ela
carrega, na sua fragilidade, na falta de merecimento do melhor, na falta de
poder diante da situação, na sua visão de que não tem escolha e outras
cognições restritivas, que lhe fecham as portas para as soluções. É
por tudo isto que se pode afirmar que a cura está em fortalecer-se, em corrigir
suas crenças a fim de perceber seu poder, sair do papel de vítima e treinar o
de protagonista. O que é isto? Protagonista é um papel que se escolhe e se
desenvolve. Não é natural. Segundo Rui Mesquita, “Protagonismo é a concepção
da pessoa como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que
é opção e como fonte de compromissos, que é a responsabilidade. Desta forma,
a pessoa aprende fazendo, ocupando uma posição de centralidade no processo e
é indutora de mudanças”. Somente assumindo a responsabilidade total pelo seu
bem-estar, a mulher pode vencer seu medo e a violência. E isto ela conseguirá
buscando ajuda, lendo e discutindo sobre o seu problema com quem entende;
enfim, ampliando muito a sua visão desta doença, das relações e de si mesma,
encontrando, assim, seus verdadeiros recursos e poder para se fazer feliz.
Por Maristela Pacheco Alves
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